Tuesday, September 06, 2005

"OS HOMENS SÃO MULHERES AVARIADAS!"

by Nuno Markl ou "Como eu gostaria de saber escrever..."


"Há umas semanas, uma discreta notícia publicada na inofensiva secção de curiosidades bizarras de uma revista abriu-me os olhos para uma incrível revelação que deveria ter feito a Humanidade parar, para além de, num mundo justo, valer aos autores da descoberta o Prémio Nobel. A revelação afectou-me de tal maneira que já dissertei sobre ela na rádio, já desenhei um cartoon sobre o inquietante assunto e quando me contactaram da Activa, convidando-me a escrever um artigo, achei que fazia todo o sentido falar sobre isto numa revista feminina. A verdade é que, perante a revelação de que vos falo, nem sequer a expressão "revista feminina" por oposição a "revista masculina" faz sentido. A verdade é que nós, homens, somos no fim de contas, mulheres avariadas. Passo a explicar. Dizia a notícia, disfarçada de inofensivo chiste para jantares de empresa, que cientistas chegaram à conclusão de que os homens estão muito mais sujeitos a apanhar todo o tipo de doenças do que as mulheres, uma vez que as mulheres possuem a famosa combinação de cromossomas XX, enquanto os homens possuem a não menos famosa combinação de cromossomas XY. O que os cientistas descobriram agora é que o cromossoma Y (que, no fundo, é o que faz de nós uns homens - não a tropa) é, no fim de contas, uma versão degradada, estragada e avariada do cromossoma X. E que o equilíbrio que as mulheres têm com a dupla XX os homens não têm com o deprimente XY, daí as doenças e o facto de morrermos mais cedo do que elas. O que está aqui a ser dito é que a norma seria o XX. A Humanidade deveria ser toda XX. Calhou, no entanto, a algumas criaturas à face deste planeta a infelicidade de ter a combinação não de dois X mas de um X e um Y, essa versão arruinada do X. Aliás, basta olhar para as letras: o que é o Y, senão um X a quem caiu uma das pernas e que tem que se equilibrar precariamente, qual Saci Pererê, num único e frágil suporte? Para quem ainda não percebeu - e eu ainda não fui suficientemente claro porque estou meio em negação -, o que este estudo nos está a dizer é que era suposto existirem apenas mulheres no mundo. Por um azar, uma corrente de ar, qualquer coisa que correu mal na Criação, um cromossoma estragou-se. E aparecemos nós: esta anomalia a que se convencionou chamar "homem". Tenho tonturas ao pensar nisto. Ao pensar que sou uma anomalia. Isto põe em causa séculos e séculos de conceitos que tínhamos como certos. A ideia que somos o sexo forte. A importância que damos ao nosso pénis. Sendo que somos uma anomalia, à luz destas novas descobertas, a importância do nosso pénis é a mesma de uma borbulha ou de um furúnculo, uma vez que, tudo indica, era suposto termos uma vagina. Isto é uma situação profundamente dramática, pelo que quero apelar às mulheres de Portugal que, perante a bombástica revelação, não a usem contra nós, evitando assim expressões tais como: "Estás a ver?", "Ora toma !" ou "E agora, quem é o sexo forte?". Mais do que nunca, precisamos de carinho e compreensão. Contamos convosco! Pronto. Está escrita toda a parte do artigo que é para ser lida pelas mulheres, público-alvo desta revista. Obrigado pela vossa atenção e passem à frente: há muito bom artigo, nas próximas páginas, à vossa espera, sobre hidratação da pele e dietas. O que se segue é só para os homens. Vão em frente, mulheres. Estejam à vontade. Obrigadíssimo. Até um dia destes. Tchau. Boa viagem. (PARA OS GAJOS: Malta, isto não são más notícias. Já se aperceberam bem do potencial desta coisa em termos de auto-vitimização? É lindo! "Não grites comigo, sou uma anomalia." Estamos safos por uns tempos. Acho eu.)"

1 comment:

el_olive said...

linnnnnndddddoooooooo porem apenas te digo : -- la tas tu a inventar esquemas para nao levares na cabeça...:p


bem haja,