Saturday, September 24, 2005

Casamentos, e esse hábito irritante de bater nos pratos para os noivos se beijarem.

Estive num casamento. Ora, de certeza que já todos foram a um casamento e se depararam com uma sala cheia de gente a bater desenfreadamente com talheres em pratos, até haver um beijo entre os noivos. Algumas pessoas, talvez um pouco mais emocionadas ou embebidas em álcool, chegam mesmo a (quase) partir o prato.
Ora, isto é algo que não consigo entender… Até consigo imaginar como começou esta tradição… uma alma mais caridosa, há muitos anos atrás, pensou: “Coitados dos noivos, passam 3 anos a namorar à janela, mais 3 anos a namorar no sofá, cuidadosamente sentados um em cada ponta com a mãe da noiva amavelmente sentada no meio a segurar uma vela, para agora terem que gramar com a família toda (muitos deles bêbados) durante horas, antes de puderem finalmente seguir para a noite de núpcias. Já que o máximo a que tiveram direito foi a um beijo tímido na igreja, bem controlado uma vez que estão num altar e em frente ao padre, vamos dar-lhes uma desculpa para uns beijos apaixonados, assim à laia de aquecimento para logo à noite.”
Bem, vendo as coisas assim, fazia algum sentido.
Mas analisando a situação um pouco mais friamente, e à luz da vida moderna:
Ali temos um casal que de certeza que já fez mais (sexualmente falando) antes de casar do que o que vai fazer depois. E já fez mais antes de casar do que qualquer casal dessa altura fazia ao longo de toda a vida. Como estava a dizer, ali estão eles, mortinhos por se livrarem da família, cansados da despedida de solteiro que muitas vezes durou até à hora de tomar o pequeno almoço, desgastados pela longa missa cheia de sermões e indirectas do Padre, que tem noção que 75% (at least) dos casamentos são feitos mais para agradar à família do que por vontade dos noivos. Só pensam em ir embora (“vamos lá despachar esta merda, está aqui tudo a comer e a beber à nossa pala, até cair para o lado… e nós a gramar isto”) e devem manter o ar feliz durante todo o dia, mesmo que os pés estejam a arder e o álcool a apertar (álcool que bebem desmesuradamente - lógica do beber para esquecer, acredito eu). Já para não falar das situações embaraçosas, como aconteceu num casamento a que fui, e que deriva de uma adaptação do conceito de bater nos pratos para os noivos se beijarem: o bater nos pratos enquanto se grita desalmadamente para os pais do noivo, os pais da noiva ou os padrinhos se beijarem. Ora, se o caso de os padrinhos não estarem relacionados é por demais evidente para merecer consideração, já o caso que assisti é, no mínimo, de um humor mórbido: o pai do noivo já tinha falecido (e recentemente, por acaso). Ora, imaginem uma sala com quase 100 pessoas em que cerca de 50% grita: “Agora os pais do noivo!!! Os pais dos noivo!!” de uma forma tão inocente quanto empolgada, enquanto os outros 50%, aflitos, tentam conter o povo e a mãe do noivo começa a chorar desalmadamente… Ou imaginem o caso de
pais separados/divorciados e com divórcio bem litigioso, bem desagradável, ao ponto de já nem puderem olhar um para o outro.
Mas como criticar sem propor alternativas é tipicamente tuga, aqui vão algumas sugestões para entretenimento em casamentos:

Em substituição do beijo dos noivos, gritar: “Uma rapidinha em cima da mesa das sobremesas!!”.
Pegar no primeiro bêbado que começar a dançar no meio da pista agarrado a uma garrafa e espetar-lhe a cara na camada superior do bolo de noiva (é verdade, não sou fã do bolo de noiva, seriam 2 coelhos de uma cajadada só).
Pensando melhor na primeira alternativa, passa a uma rapidinha numa mesa vazia, a mesa das sobremesas dá jeito.
Ir pisando repetidamente a cauda do vestido de noiva até conseguir que esta caia.
Insinuar alto e perto do pais da noiva: “Hoje em dia já ninguém casa virgem, aliás… bem rodados, como estes dois” ou perto dos pais do noivo: “Se não fosse esta pobre coitada, já ninguém pegava nele”.
Dirigir-se a um familiar da noiva já com alguma idade (mulheres de preferência) e dizer “A noiva não lhe parece grávida?”.
Ir ter com as solteiras mais desesperadas por apanhar o bouquet da noiva e dizer: Tenho um amigo da Lituânia que precisa de ser casar para se naturalizar Português, posso deixar-lhe o contacto…”

5 comments:

Anonymous said...

Quer-me parecer que a historia dos pratos é um misto de fase voyeur de Freud mal resolvida com birra juvenil. Aliás o próprio metodo para obter o resultado ( a produção de um ruído extremamente alto e irritante ) faz-me mesmo lembrar certas birras de puto...

Anonymous said...

SIMPLESMENTE LINDO!!!

whatever said...

Acho que ainda podias acrescentar.. alguém do lado do noivo, dizer à noiva:
- " Aquela foi a 3ª que lhe disse que não"

Morning_Theft said...

Muito bom...

Papoila said...

Está tá demais.
Ri a valer!
Dá-me ideias, dá.
Sou excelente a criar situações de embaraço.