Friday, March 02, 2007

O Português mais cool de sempre

Tenho uma confissão a fazer.
Eu votei no maior Português de sempre. Votei.
Mas confesso: foi um momento de fraqueza aliado ao facto de ter passado muito tempo em casa nos últimos dois meses... Foi também uma forma de prestar homenagem a um gajo que sempre admirei fortemente: o grande Luís Vaz.
Para já, sou a dizer que uma das coisas que gosto mais no personagem é que nunca foi aquele típico poeta delicadinho e abichanado. Ora, atentai na figura acima. O homem está a usar uma armadura! Uma armadura! Que outros grandes poetas é que usavam armadura? Tudo bem, eu sei que há aquela golinha redonda com folhos, mas quero acreditar que ele foi obrigado a usá-la numa ocasião especial qualquer (parece que era mesmo moda na altura) e desde aí nunca mais se livrou dela. É que estamos a falar de um gajo que gostava de andar à porrada e que se fartou de desancar em tudo o que era Mouro (diz que até perdeu um olho à conta disso). E mais: fartava-se de ir para os copos e era conhecido por comer gajas a torto e a direito como se não houvese dia seguinte.
Ora, um gajo que leva um estilo de vida assim e que ainda tem tempo para, nas horas vagas, escrever os Lusíadas não é um gajo qualquer. E este é um ponto importante: Os Lusíadas. Aqui temos nós então um livrinho com mais de oito mil versos organizados em estrofes de oito, cada um desses versos com exactamente dez sílabas métricas, sendo que cada estrofe obedece ainda ao esquema rímico ABABABCC. Ora, se me pedissem a mim que escrevesse ainda que um conjunto aleatório de palavras obedecendo a este conjunto castrador de regras, eu desistia antes de chegar a metade. Aqui o Luís Vaz não só conseguiu, como ainda aproveitou para relatar brilhantemente a história de Portugal no meio do processo.
É obra isto, pá!
Se é o maior Português de sempre? Isso eu não sei.
Mas que é o Português mais cool de sempre disso não tenho dúvidas.
E não há memória que, no século XVI, Portugal fosse terra de cegos (ora aqui está um subtil trocadilho para acabar o post)...

6 comments:

Anonymous said...

Ora, permite me acrescentar que ele, não só escreveu aquela grande obra que são 'Os Lusíadas', como a salvou de um naufrágio, algures ao pé da India, em que o navio foi ao fundo e o homem conseguiu salvar o raio do manuscrito.
Tambem deve dizer que ele, nao me parece, que tivesse muitas ocupações... alguem que tem tempo e paciencia para escrever aquilo, ñão deve ter mais nada para fazer... ou, pelo menos, nada mais interessante!

Papoila said...

É uma grande obra-prima, sem dúvida.
Levar com ela na escola é que já não me parece ser uma grande ideia.
Não admire que fiquemos todos doidos num instante!

Morning_Theft said...

Ainda há poucos dias falava com a Sónia sobre este senhor... confesso q n sou adepto desta cena das votações mas para mim, este Senhor não só é o mais cool como a meu ver é o melhor deles todos... até já me está a apetecer citá-lo... lá terá de ser... my personal favourite:

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Este homem não dá a mínima hipótese aos demais... :p

Mike Monteiro said...

O teu post conseguiu com que ganhasse mais respeito e admiração do dito cujo agora, do que todos os anos que passei na escola...

bone daddy said...

It's educational!

Artur said...

A metrica e' gira sim senhor, mas eu queria ver o Luis, a escrever os grandes momentos da historia de portugal dos Lusiadas ate' hoje!
Não havia metrica que o salva-se ...