Há histórias que têm de ser contadas. E esta é uma delas.
Madrugada de Sexta para Sábado - uma noite tipicamente movimentada cá no bairro. Cinco e meia da manhã.
Dormia que nem uma pedra quando fui acordado pela campaínha da porta. Talvez um imbecial qualquer sem nada mais divertido para fazer do que campaínhar (verbo muito usado na meninice mas que mais tarde perde misteriosamente a piada). Não! Decididamente, isto era outra coisa. Ouviam-se bips e uma voz abafada a sair dum walkie-talkie. Obviamente, levantei-me.
- Quem é?
- Polícia!
Polícia? A esta hora? Alguma coisa aconteceu...
Nesta altura as possibilidades em aberto eram tantas que me lembro de nem conseguir pensar em nada. Só abri a porta. Era mesmo um polícia.
- Senhor Bruno Pinheiro?
- Sim?
- O senhor tem um Honda Civic?
- Tenho, sim...
- Estacionou o carro na Calçada da Glória? Em cima do passeio?
Nos breves décimos de segundo entre esta pergunta e a minha resposta consegui pensar em milhentos cenários. Partiram-me um vidro. Assaltaram-me o carro. Vandalizaram-me o carro. Pegaram-lhe fogo. Sei lá que mais é que pensei... Mas limitei-me só a responder...
- Sim, estacionei.
- Pois, então eu se fosse a si ia até lá. É que o senhor deixou o carro destrancado e os vidros completamente abertos. Naquele sítio não é boa ideia.
Irreal. Demasiado irreal.
- Obrigado! Obrigado pela informação.
Foi a única coisa que consegui dizer antes de ver o polícia começar a descer as escadas do prédio.
E pronto. Foi isto.
Escusado será dizer que me vesti e fui trancar o carro. Ainda tinha umas tantas coisas de algum valor na mala e não me apeteceu arriscar.
Mas o importante a reter disto é que houve um polícia que viu um carro de vidros abertos e se deu ao trabalho de saber de quem era e onde morava. E isto é reconfortante saber, ainda para mais tendo em conta que o carro estava mal estacionado (para todos os efeitos é proibido estacionar sobre passeios). Aqui temos um polícia que podia não ter feito nada (ou se fosse mauzinho até multava o carro por estacionamento indevido) mas que, em vez disso, decidiu fazer algo proactivo.
Se não estivesse com tanto sono juro que tinha visto o nome dele e, no dia seguinte, ia à esquadra entregar uma cartinha elogiosa.
Outra a coisa a reter foi a sorte danada que tive. Ninguém entrar num carro escancarado durante quase nove horas, à noite, na Calçada da Glória, é obra. É que, para quem não conhece o sítio, é quase a mesma coisa que cortar um dedo com uma faca e a seguir mergulhar numa piscina de tubarões...
Sunday, October 15, 2006
Porque quando há que dizer bem, diz-se bem ou Hail to the (portuguese) police
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10 comments:
Epá... Eu nem sei se te chame nomes a ti ou aos gajos que me roubaram o rádio nesse mesmo sítio, tendo para o efeito partido o vidro, e que levaram o dito rádio sem o painel, que estava comigo em tua casa...
Será de referir que este menino tem tanta sorte, que não é a 1ª nem 2ª etc vez que deixa o carro destrancado e nunca aconteceu nada... De notar que o sono era tanto nesse dia que o menino ainda colocou a hipótese de não ir trancar o carro porque "sabia" que nada lhe ia acontecer... É assim, uns são filhos de deus de rabinho virado para a lua, outros...
Querido polícia, sim senhor!
Quando nos deparamos com pessoas assim, é que vem de novo a velha sensação de que ainda não é desta que o mundo está perdido, ainda existem pessoas que pensam nos outros e tal. Sensação breve mas super gratificante (eu juro que este super não é influências floribelísticas, ok?
Quanto ao deixar um elogio ao polícia, foi uma pena não teres ficado com o nome do senhor mas pode ser que perguntando na esquadra quem andava a fazer a ronda na noite x, chegues a bom nome. Como eles têm que fazer o relatório, pode ser que tenhas sorte.
E ele também!
Esperem lá... há aqui uma coisa nesta história que definitivamente não bate certo... então mas o indivíduo aqui retratado não é o mesmo que está prestes a ser Pai?!?
Vindo desse individuo, nada me surpreende. Também não posso falar muito, porque já vivi uma situação idêntica. Mas eu deixei a chave na ignição e o carro estacionado em segunda fila. Os vidros e as portas tb ficaram abertos... e a carteira no porta-luvas! Mas não tive nenhum polícia a avisar-me... tive um irmão a perguntar-me onde estava o carro!!! Meus amigos, - não quero mentir - mas acho que não passou um minuto desde que me levantei até estar em frente ao dito cujo.
BU, não posso deixar de mostrar a minha solidariedade para ctg, meu bom amigo! :)
Acho que as autoridades pensaram ser um carro roubado e não dúvida foram confirmar. Não me parece simpatia ao acaso :P
Aconteceu-me a mesma coisa há uns meses atrás!
he he e eu q deixei a chave na ignição na mota durante uma noite inteira, na amadora, num local movimentado e no dia seguinte ela ainda lá estava!!!!
Das duas uma, ou tive muita sorte, ou se alguém a levou para dar uma volta voltou a atestar e, sabendo a que horas eu saia voltou a deixá-la lá para mim...
aposto na 1ª
(prvt: paraben pela raquel)
Q grande fezada.
Tb deixei uma vez assim o carro em Campo de Ourique mas de porta aberta, com coisas no banco do pendura e chave na ignição. Eles trancaram-.me o carro e deixaram-me um bilhete :)
Parabéns
R_ESanto
Só tenho uma palavra para descrever isto: SUUURREEEEAAAALLL!
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